O Museu de Arte do Rio Grande do Sul apresenta "Stockinger: Os Diversos Tempos da Forma", uma exposição panorâmica com cerca de 50 obras de Xico Stockinger, com curadoria de José Francisco Alves, curador-chefe do MARGS. A abertura ocorre no dia 18 de agosto, às 19h e a mostra ficará em cartaz de 19 de agosto até 9 de outubro, nas galerias Oscar Boeira, Ângelo Guido e sala Pedro Weingärtner. Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h. Entrada franca.
Pela primeira vez, estarão expostas todas as obras do artista que pertencem ao acervo do Museu. A exposição homenageia os 57 anos do MARGS, instituição que Stockinger dirigiu duas vezes. O artista completaria 92 anos este mês. E também é realizada no ano do cinquentenário do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde o escultor foi o primeiro diretor.
Entre as cerca de 50 obras de Stockinger no acervo, um primeiro grupo é composto por esculturas modeladas em gesso (década de 1950), resultado direto de seu aprendizado com Bruno Giorgi. Foram produzidas até cerca de 1961 e são bustos convencionais, resultado de modelo vivo, e figuras religiosas. Entre essas obras, o destaque é uma figura feminina em tamanho natural, vencedora do Festival de Artes Contemporâneas de Porto Alegre, em 1960.
Um segundo grupo homogêneo constituiu-se de xilogravuras. Arte de reprodução, a custos baixos e em quantidade, elas representam uma fase na qual Stockinger precisou desenvolvê-las por dificuldades financeiras. Essa produção foi realizada por volta de 1956 a 1961, de tal forma que o artista transformou-se em prestigiado professor da técnica. Nesse ano, ele praticamente parou de produzir gravuras e passou a formar gravadores, ministrando aulas de xilogravura (o curso Goeldi, 1961/64) no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Entre os alunos desse curso, destacaram-se, por exemplo, Regina Silveira e Vera Chaves Barcellos. Mas não só gravuras o MARGS possui. Este ano, junto com outras gravuras de Stockinger, reeditadas entre 2007 e 2009, está se incorporando ao acervo uma numerosa série de tacos (década 1950), que são as matrizes das xilogravuras, objetos que podem ser exibidos como documentos artísticos; além de belas peças de madeira entalhada, os tacos servem, também, para revelar os processos desta arte medieval, que se mantém viva e atual até o presente.
Entre outras esculturas pertencentes ao Museu destaca-se - em bronze, ferro e madeira- o exemplar mais conhecido da série dos Sobreviventes - conjunto com somente pouco mais que dez peças. Trata-se de um animal aterrorizador, feito com madeira, sucatas de ferro, ossos de animais e partes de bonecas de plástico. Essa série foi realizada sob caráter político-social, mas as obras acabaram por tomar feições incrivelmente horrendas, como denúncia da miséria humana, no sentido de expor o papel dantesco e destruidor que o Homem pode vir a assumir com os seus atos.
O conjunto de pedras (mármores e basalto), esculpido nas décadas de 1980 e 1990, é conhecido por revelar um artista mais preocupado com a forma. Quando esta produção foi dada a conhecimento, o próprio Stockinger a chamou de “o descanso do guerreiro”: uma pausa na arte social e figurativa por meio de uma linguagem abstrata, o aproximando da arte sensorial, orgânica.
Um outro grupo numeroso no acervo do MARGS, representa uma retomada da arte social em Stockinger, o conjunto dos homens-gabirus (1995/97). A série que denunciou a miséria do povo nordestino. Ali, em bronze fundido, o artista volta a surpreender com representações de pessoas expressando o seu mais profundo sofrimento, a miséria e a morte pela fome. Da expressão mais conhecida do artista - o guerreiro em ferro soldado e madeira - integra o acervo do Museu uma escultura de 3,4 metros de altura. Realizada em 2006 e doada em 2008, o maior guerreiro que o artista confeccionou.
Modelo curatorial
Com esta exposição o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, dá continuidade ao projeto desta gestão de exibir o acervo da instituição através de projetos curatoriais de relevância e forte caráter de inovação. Para Stockinger: Os Diversos Tempos da Forma será utilizado novamente um modelo labiríntico de curadoria, onde as obras não estarão expostas cronologicamente, mas através de justaposições de períodos diversos da obra do artista, articulando as obras em relação à um tempo não-cronológico, dentro do que a curadoria considerou como sendo “o tempo da forma”. Dentro desta perspectiva a exposição apresenta novas possibilidades associativas, atualizando a singularidade de cada obra diante do tempo presente, independentemente do período em que tenha sido produzida. Nesse processo o visitante é beneficiado, não somente com a possibilidade de repensar a obra do artista fora da linearidade da cronologia, como por meio de novas associações conceituais, formais, políticas, e outras que a curadoria propõe via mecanismos de exibição utilizados.
Quando veio para o Rio Grande do Sul, Stockinger já possuía uma formação em escultura no ateliê-escola de Bruno Giorgi (1905-1993) e havia participado de salões de arte no Rio de Janeiro - como premiado e jurado. Em Porto Alegre, lutou para se firmar no território artístico, e em dois anos já era conhecida liderança artística local. Como escultor, foi pouco a pouco se firmando através de dezenas de exposições e inúmeros prêmios que recebeu.
Por volta de 1961, sua escultura ainda não tinha atingido um caminho definido, produzindo esculturas de modelagem em gesso, numa figuração de conotação expressionista. Não podendo mandar fundir suas obras, por motivos econômicos, decidiu ele mesmo construir uma pequena fundição nos fundos de sua casa. Assim, Stockinger iniciou a sua independência financeira e, paulatinamente, o emprego fixo em um jornal (chargista e cronista) foi cedendo tempo para a atividade de escultor. Em razão da economia de material caro (metais), somado à necessidade de aumento do tamanho das peças e às motivações sociais que exigiam do artista uma tomada de posição (protesto contra a Ditadura Militar), surgiram os guerreiros - metade ferro soldado, metade madeira. Procedimento construtivo e simbologia que caracterizam a contribuição desse artista ao universo da arte. Sua produção, ainda na década de 1960, desdobrou-se em vertentes interessantes, como as obras em sucata e a série Sobreviventes. No mesmo período, iniciou o trabalho em pedra, principalmente o mármore. Nessa linha, optou por uma produção abstrata. Em 1995, outra de suas marcas foi a representação, em bronze, do “homem-gabiru”, população nordestina que, em virtude da fome, se alimentava de ratos.
Para o historiador de arte José Francisco Alves, curador da exposição “podemos encontrar na trajetória pessoal e artística de Francisco Stockinger (1919-2009), um exemplo de humanismo e ímpeto criador que raramente encontramos similar em um artista de sua geração”. Incansável, esse artista entregou-se de corpo e alma em quase tudo que se envolveu. Sua condição maior foi ser um dos principais escultores brasileiros da segunda metade do séc. XX, aquele que plasmou em três dimensões, como ninguém, a simbologia do guerreiro na arte brasileira.
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MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL
Praça da Alfândega, s/nº - Centro Histórico
CEP 90010-150 - Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3227.2311
www.margs.rs.gov.br
Fonte: MARGS e imagens postadas por Jussara Stockinger no Grupo "FRANCISCO (XICO) STOCKINGER, vida e obra" no Facebook.
Pela primeira vez, estarão expostas todas as obras do artista que pertencem ao acervo do Museu. A exposição homenageia os 57 anos do MARGS, instituição que Stockinger dirigiu duas vezes. O artista completaria 92 anos este mês. E também é realizada no ano do cinquentenário do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde o escultor foi o primeiro diretor.
Entre as cerca de 50 obras de Stockinger no acervo, um primeiro grupo é composto por esculturas modeladas em gesso (década de 1950), resultado direto de seu aprendizado com Bruno Giorgi. Foram produzidas até cerca de 1961 e são bustos convencionais, resultado de modelo vivo, e figuras religiosas. Entre essas obras, o destaque é uma figura feminina em tamanho natural, vencedora do Festival de Artes Contemporâneas de Porto Alegre, em 1960.
Um segundo grupo homogêneo constituiu-se de xilogravuras. Arte de reprodução, a custos baixos e em quantidade, elas representam uma fase na qual Stockinger precisou desenvolvê-las por dificuldades financeiras. Essa produção foi realizada por volta de 1956 a 1961, de tal forma que o artista transformou-se em prestigiado professor da técnica. Nesse ano, ele praticamente parou de produzir gravuras e passou a formar gravadores, ministrando aulas de xilogravura (o curso Goeldi, 1961/64) no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Entre os alunos desse curso, destacaram-se, por exemplo, Regina Silveira e Vera Chaves Barcellos. Mas não só gravuras o MARGS possui. Este ano, junto com outras gravuras de Stockinger, reeditadas entre 2007 e 2009, está se incorporando ao acervo uma numerosa série de tacos (década 1950), que são as matrizes das xilogravuras, objetos que podem ser exibidos como documentos artísticos; além de belas peças de madeira entalhada, os tacos servem, também, para revelar os processos desta arte medieval, que se mantém viva e atual até o presente.
Entre outras esculturas pertencentes ao Museu destaca-se - em bronze, ferro e madeira- o exemplar mais conhecido da série dos Sobreviventes - conjunto com somente pouco mais que dez peças. Trata-se de um animal aterrorizador, feito com madeira, sucatas de ferro, ossos de animais e partes de bonecas de plástico. Essa série foi realizada sob caráter político-social, mas as obras acabaram por tomar feições incrivelmente horrendas, como denúncia da miséria humana, no sentido de expor o papel dantesco e destruidor que o Homem pode vir a assumir com os seus atos.
O conjunto de pedras (mármores e basalto), esculpido nas décadas de 1980 e 1990, é conhecido por revelar um artista mais preocupado com a forma. Quando esta produção foi dada a conhecimento, o próprio Stockinger a chamou de “o descanso do guerreiro”: uma pausa na arte social e figurativa por meio de uma linguagem abstrata, o aproximando da arte sensorial, orgânica.
Um outro grupo numeroso no acervo do MARGS, representa uma retomada da arte social em Stockinger, o conjunto dos homens-gabirus (1995/97). A série que denunciou a miséria do povo nordestino. Ali, em bronze fundido, o artista volta a surpreender com representações de pessoas expressando o seu mais profundo sofrimento, a miséria e a morte pela fome. Da expressão mais conhecida do artista - o guerreiro em ferro soldado e madeira - integra o acervo do Museu uma escultura de 3,4 metros de altura. Realizada em 2006 e doada em 2008, o maior guerreiro que o artista confeccionou.
Modelo curatorial
Francisco (Xico) Stockinger
Nascido na Áustria, em 7 de agosto de 1919, Stockinger emigrou com sua família para o Brasil em fevereiro de 1923. Criou-se no do interior do estado de São Paulo. Depois, viveu na capital paulista e no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, conheceu a gaúcha Yeda de Oliveira, com quem se casou em 1949. Em 1954, arranjou um emprego como diagramador e chargista em A Hora, um novo jornal porto-alegrense. Assim, ele se tornou gaúcho aos 34 anos. Em 31 de dezembro de 1958, o artista naturalizou-se brasileiro.Quando veio para o Rio Grande do Sul, Stockinger já possuía uma formação em escultura no ateliê-escola de Bruno Giorgi (1905-1993) e havia participado de salões de arte no Rio de Janeiro - como premiado e jurado. Em Porto Alegre, lutou para se firmar no território artístico, e em dois anos já era conhecida liderança artística local. Como escultor, foi pouco a pouco se firmando através de dezenas de exposições e inúmeros prêmios que recebeu.
Por volta de 1961, sua escultura ainda não tinha atingido um caminho definido, produzindo esculturas de modelagem em gesso, numa figuração de conotação expressionista. Não podendo mandar fundir suas obras, por motivos econômicos, decidiu ele mesmo construir uma pequena fundição nos fundos de sua casa. Assim, Stockinger iniciou a sua independência financeira e, paulatinamente, o emprego fixo em um jornal (chargista e cronista) foi cedendo tempo para a atividade de escultor. Em razão da economia de material caro (metais), somado à necessidade de aumento do tamanho das peças e às motivações sociais que exigiam do artista uma tomada de posição (protesto contra a Ditadura Militar), surgiram os guerreiros - metade ferro soldado, metade madeira. Procedimento construtivo e simbologia que caracterizam a contribuição desse artista ao universo da arte. Sua produção, ainda na década de 1960, desdobrou-se em vertentes interessantes, como as obras em sucata e a série Sobreviventes. No mesmo período, iniciou o trabalho em pedra, principalmente o mármore. Nessa linha, optou por uma produção abstrata. Em 1995, outra de suas marcas foi a representação, em bronze, do “homem-gabiru”, população nordestina que, em virtude da fome, se alimentava de ratos.
Para o historiador de arte José Francisco Alves, curador da exposição “podemos encontrar na trajetória pessoal e artística de Francisco Stockinger (1919-2009), um exemplo de humanismo e ímpeto criador que raramente encontramos similar em um artista de sua geração”. Incansável, esse artista entregou-se de corpo e alma em quase tudo que se envolveu. Sua condição maior foi ser um dos principais escultores brasileiros da segunda metade do séc. XX, aquele que plasmou em três dimensões, como ninguém, a simbologia do guerreiro na arte brasileira.
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MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL
Praça da Alfândega, s/nº - Centro Histórico
CEP 90010-150 - Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3227.2311
www.margs.rs.gov.br
Fonte: MARGS e imagens postadas por Jussara Stockinger no Grupo "FRANCISCO (XICO) STOCKINGER, vida e obra" no Facebook.
Oi Raul!!!
ResponderExcluirQue bela exposição, não vou perder, quero ir ver. Uma ótima dica mesmo. Seus posts são excelentes com assuntos interessantes e importantes da nossa história e cultura.
Uma boa semana!!!
Abraços
Bia :)