Michelangelo não pretendia ser mais que escultor quando se discutiu sua magna obra, a decoração da Capela Sistina. Dirigiu-se a um amigo e lhe disse: "Defendê-la tu, não sendo eu pintor". (1)
Michelangelo achava que a pintura era inferior à escultura, pois essa realizava o que projetavam os pintores. Aqui está o contraste com Leonardo, que dizia que "uma arte é tanto mais elevada quanto menos tiver materialidade". (2)
A pintura de Michelangelo é uma pintura de escultor, isso é flagrante. Ao modelado fluido e suave, à sombra carregada de mistério de Leonardo da Vinci, opõe-se um jogo de luz e sombra de uma nitidez perfeitamente escultural. Michelangelo não é um pintor, é um escultor que utiliza os pincéis como utilizaria o escopro ou o martelo. Talha as faces, os corpos, os panejamentos, como um admirador da força e da beleza do ser humano e da matéria. (3)
A Michelangelo deve-se a honra de ter compreendido o que o mundo havia esquecido desde a Grécia: saber do grande valor artístico do desnudo. (4)
Fora da melhor época grega, não existem formas cujos valores táteis tenham tanta força geratriz, cujos movimentos sejam tão comunicativos e evocadores. Desde logo, também outros mestres, um Masaccio, por exemplo, expressaram os valores táteis com um poder igual. Também outros, Leonardo, por exemplo, haviam expressado o movimento com uma intensidade pelo menos equivalente. Porém pela primeira vez, o dom de penetração visual que há nos grandes artistas se consagra em um motivo de onde pode plenamente manifestar-se: o nu. E desta combinação emerge uma fecundidade de sensações que não haviam sido alcançadas. (5)
A essas faculdades de concepção e expressão, a esses dons mais apreciáveis do temperamento artístico, Michelangelo acrescentava a visão de uma humanidade tão idealmente bela e forte, tão grandiosa, todavia permanecendo humana, que nenhum cérebro pôde depois evocar algo parecido. (6)
É entre as figuras da Sistina onde encontramos melhor que em nenhum outro lugar a realização desse sonho que nos persegue: o esplendor do corpo unido àquele da alma, equilíbrio incomparavelmente expressado aí em visões de virilidade e serena grandeza. Michelangelo conclui isso que Masaccio havia esboçado: O tipo de homem esse para dominar a terra e quem sabe, também os céus. (7)
Referências Bibliográficas:
(1) a (3) - PIJOAN, José. Summa Artis: História General del Arte (3ª Ed.) Madrid: Espasa-Calpe, 1950
(4) a (7) - BERENSON, Bernardo. Los Pintores Italianos de Renascimento. Buenos Aires: El Ateneo, 1944. 310p
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