O Partenon. Atenas, Grécia. Início da constr.: 447 a.c, fim: 432 a.c. Arqt. Iktinos, Kallikrates. |
Os próprios gregos sentiam, de uma maneira muito simples e natural, que eram diferentes de qualquer outro povo que conheciam. Pelo menos, os gregos da época clássica, costumavam dividir a família humana em helenos e bárbaros. Os gregos pré-clássicos, Homero, por exemplo, não se referem aos "bárbaros", desta maneira, não porque Homero fosse mais delicado do que os seus descendentes, mas simplesmente porque esta diferença ainda não se tinha estabelecido em moldes absolutos.
Não se tratava, realmente, de modo nenhum, de uma questão de delicadeza. A palavra grega "bárbaros" não tem o mesmo sentido que lhe damos hoje, não é um termo de repugnância ou desprezo. Apenas quer dizer: Povos que produzem sons no gênero de "bar-bar", em vez de falarem grego. Quem não falava grego era "bárbaro", quer pertencesse a alguma tribo selvagem da Trácia, ou a uma das luxuosas cidades do oriente, ou do Egito, que, como os gregos bem sabiam, tinha sido um pais organizado e civilizado muitos séculos antes de a Grécia existir. O termo "bárbaros" não era necessariamente sinônimo de desprezo.
A poesia épica, a história, o drama, a filosofia com todos os seus ramos, desde a metafísica até a economia, a matemática e muitas das ciências naturais - tudo isso começa com os gregos.
Contudo, se pudéssemos perguntar a um grego antigo o que o distinguia de um bárbaro, creio que ele não poria em primeiro lugar estas glórias do espírito helênico, apesar de estar plenamente consciente de que fazia a maior parte das coisas de uma maneira mais inteligente.
Nem tão-pouco pensaria em primeiro lugar nos templos, nas estátuas e nos dramas que nós tão justamente admiramos. Ele diria, e de fato disse-o "os bárbaros são escravos, nós gregos, somos homens livres".
O que queria ele dizer com esta "liberdade" dos helenos e "escravidão" dos não-helenos"? Devemos ter cuidado em não lhe dar um sentido estritamente político, embora o matiz político seja bastante importante. Politicamente significava, não necessariamente que o cidadão se governava a si próprio, pois a maior parte das vezes assim não acontecia, mas sim que, qualquer que fosse o governo da cidade, respeitava os seus direitos. Os negócios de estado eram de domínio público, não apenas da competência exclusiva de um déspota. As pessoas eram regidas pela lei, uma lei conhecida, que respeitava a justiça. Uma vez que viviam numa verdadeira democracia, essas pessoas tomavam parte no governo do estado, a democracia, como os gregos a entendiam, é uma forma de governo que o mundo atual não conhece nem pode conhecer, mas se não viviam numa democracia, os gregos eram, pelo menos, "membros", não súditos, e os princípios da governação, toda a gente os conhecia. O governo arbitrário ofendia os gregos até ao fundo da alma.
Mesmo aos deuses, os gregos oravam como homens eretos, embora conhecessem como ninguém a diferença entre o humano e o divino. Sabiam muito bem que não eram deuses, mas sabiam que eram, pelo menos, homens, e que os deuses não demoravam a abater sem piedade os que tentavam imitar a divindade, e que de todas as qualidades dos homens, gostavam sobretudo da modéstia e do respeito.
Foi o fato de os gregos terem desenvolvido uma forma de governo que nós muito tosca e incorretamente traduzimos por "cidade-estado" (*) - ainda nenhuma língua moderna encontrou melhor tradução - que estimulava e satisfazia os mais altos instintos e capacidades do homem. A cidade-estado, originariamente uma associação local para a segurança comum, se transformou no centro irradiante de atividades morais, intelectuais, estéticas, sociais e práticas, desenvolvendo-as e enriquecendo-as de uma maneira tal como nenhuma outra forma de sociedade tinha feito ou jamais fez. As outras formas de sociedade política tem sido, digamos assim, estáticas; a cidade-estado foi o meio através do qual os gregos se esforçaram conscientemente por tornarem a vida da comunidade e do indivíduo mais excelente do que tinha sido até aí.
Seria isto, certamente, o que um grego antigo colocaria em primeiro lugar, dentre as mais importantes criações dos seus compatriotas, ou seja, que eles, gregos, tinham descoberto o melhor processo de viver. Aristóteles, pelo menos, pensava assim, porquanto aquela sua afirmação que é costume traduzir por: "O homem é um animal político" realmente significa: "O homem é um animal cuja característica é viver numa cidade-estado". Quem não vivesse assim era algo menos que um homem, no seu aspecto melhor e mais característico. Os bárbaros não viviam assim, era esta a diferença fundamental.
O sentido da totalidade das coisas é talvez a característica mais típica do espírito grego.
A distinção fundamental que o mundo cristão e oriental têm feito normalmente entre o corpo e a alma, o físico e o espírito, era desconhecida dos gregos, pelo menos até o tempo de Sócrates e Platão.
Para eles, havia simplesmente o homem total. Que o corpo seja o túmulo da alma é, na verdade, uma ideia que vamos encontrar em certas religiões gregas de mistérios e Platão com a sua doutrina da imortalidade, distinguia necessariamente entre corpo e alma; mas, apesar de tudo, não se trata de uma concepção tipicamente grega.
(*) Pólis.
Referência Bibliográfica:
KITTO, H. D. F. Os Gregos. Coimbra: Armênio Amado, 1970.
Leia mais sobre os gregos em: O Período Helenístico
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